O grupo de comédia brasileiro Porta dos Fundos tem enfrentado uma tempestade de indignação por parte dos cristãos conservadores desde que lançou seu especial de Natal na Netflix sobre um Jesus gay no início deste mês. Agora, um grupo de extrema-direita que acusa os humoristas de “blasfémia” diz ter bombardeado os escritórios da Porta dos Fundos.
Um obscuro grupo de extrema direita – identificando-se como “Comando de Insurgência Nacionalista Popular da Grande Família Integralista Brasileira” – assumiu a responsabilidade pelo ataque de 24 de dezembro em uma postagem nas redes sociais divulgada no dia de Natal. No vídeo, três homens com máscaras de esqui são mostrados jogando coquetéis molotov nos escritórios do grupo de comédia no Rio de Janeiro.
O vídeo também mostra três homens mascarados em frente ao símbolo grego de um movimento político de inspiração fascista da década de 1930, o Integralismo Brasileiro, assumindo a responsabilidade pelo ataque e denunciando o especial da Netflix como blasfemo.
A Porta dos Fundos informou em comunicado que seus escritórios foram atacados com coquetéis molotov na madrugada de terça-feira. Ele disse que um segurança conseguiu apagar o fogo antes que alguém ficasse ferido, mas que o ataque colocou em perigo as pessoas no prédio e outras que passavam.
Continuamos unidos, fortes, inspirados e confiantes de que o nosso país sobreviverá a esta tempestade de ódio e o amor prevalecerá juntamente com a liberdade de expressão”, afirmou o comunicado. Um dos fundadores do grupo, Fabio Porchat, tuitou: “Não vão nos calar! Sempre!”
A polícia do Rio de Janeiro disse quinta-feira que está investigando o ataque como uma tentativa de homicídio e examinando imagens de homens não identificados que cometeram o ataque.
A Porta dos Fundos tem enfrentado uma onda de críticas iradas no país e no exterior desde o lançamento de “A Primeira Tentação de Cristo” na Netflix no início deste mês. A comédia de 46 minutos em língua portuguesa gira em torno de Jesus, interpretado por Gregório Duvivier, trazendo para casa um homem que está implícito como seu namorado para conhecer sua família.
A representação de um Jesus gay indignou os cristãos conservadores no Brasil, um país com a maior população católica do mundo, e um movimento evangélico crescente cujo apoio ajudou a colocar no poder o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, um ultraconservador e que se autodenomina homofóbico.
Desde o seu lançamento, mais de 2,3 milhões de pessoas assinaram uma petição da Change.org pedindo que a gigante do streaming retirasse o especial e pedisse desculpas por ter “ofendido seriamente os cristãos”, enquanto a hashtag #cancelonetflix se tornou uma tendência no Twitter, com muitos usuários postando capturas de tela de cancelamentos de suas contas.
Um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, condenou o filme no Twitter, escrevendo: “Apoiamos a liberdade de expressão, mas vale a pena atacar a crença de 86% da população?” E o bispo pernambucano, Henrique Soares da Costa, disse que cancelou a assinatura da Netflix por causa do especial “blasfemo, vulgar e desrespeitoso”.
A polícia do Rio disse que ainda não classificou o ataque à Porta dos Fundos como terrorismo, mas também não o desconsiderou. De acordo com a Reuters, a polícia diz que um grupo político com nome e símbolo semelhantes aos mostrados na reivindicação de responsabilidade do vídeo – a Frente Integralista Brasileira, ou Frente Integralista Brasileira – negou qualquer papel no ataque, e os investigadores ainda estão trabalhando para estabelecer as identidades e lealdades políticas dos responsáveis.