O ‘Festival das Universidades Israelenses’ do Brasil foi cancelado após protesto público

Feb 20, 2024

Ativistas palestinos e brasileiros conseguiram forçar o cancelamento do “Festival das Universidades Israelenses”, que estava programado para acontecer esta semana na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), perto de São Paulo, Brasil. Estudantes, sindicatos e organizações trabalhistas e partidos políticos de esquerda se uniram com bandeiras e faixas palestinas proclamando “Palestina Livre” e Unicamp – território livre do apartheid” nas entradas das universidades. Declararam que não permitiriam que universidades brasileiras fossem usadas para apoiar o apartheid israelense.

A administração da Unicamp confirmou que o festival não iria mais acontecer após discussões com seus organizadores. Foi tomada a decisão de suspendê-lo “por razões de segurança.

Segundo o presidente da Federação Israelita no estado de São Paulo, porém, a exigência do cancelamento do festival foi absurda. “A Unicamp é um espaço democrático que mantém seis convênios com universidades israelenses”, disse Marcos Knobel. “Está sempre trabalhando para a cooperação mútua entre os dois países.

Knobel afirmou que a Unicamp tem um número semelhante de convênios com universidades de países árabes e muçulmanos. “Temos seis acordos com universidades israelenses e seis com países do mundo árabe e islâmico. Tínhamos 66 professores em 72 atividades com universidades em Israel e 63 professores em 66 países árabes e islâmicos”, destacou. “Acreditamos que o procedimento correto é trabalhar em contato com as universidades e divulgar a nossa mensagem. Não há problema em falar sobre isso, mas a avaliação da nossa gestão é manter a conversa com as instituições dos dois mundos.

A ativista palestina e representante da rede Samidoun, Rawa Alsagheer, me disse que o conceito de realizar festivais para diferentes nacionalidades nas universidades brasileiras é em si uma coisa boa e é encorajado, mas não com universidades israelenses que participam no cometimento de crimes de guerra contra o povo palestino. “Estas universidades têm um papel fundamental no apoio aos pilares do regime do apartheid israelita e na justificação dos crimes do exército israelita”, explicou. “O público em geral deve saber que o governo israelita depende destas instituições para perpetuar a ocupação e enganar a opinião pública internacional.

Para Alsagheer, as universidades israelenses participantes do festival estão ligadas à construção do regime do apartheid em Israel ao gerarem conhecimento e tecnologias aplicadas na Palestina ocupada. Foram citadas evidências da contribuição de cada instituição educacional para o apartheid.

Aceitar a sua participação significa aceitar que o colonialismo entre nas nossas universidades e concordar com a normalização cultural e política das relações. As instituições académicas e educativas devem desempenhar um papel importante na protecção dos estudantes e na construção de uma sociedade que combata o racismo, o sionismo, o colonialismo e a exploração na Palestina, no Brasil e noutros lugares. Devemos rejeitar a relação com estas instituições.

O cancelamento do festival foi, acrescentou Alsagheer, dedicado à firmeza do movimento de prisioneiros que luta pelos palestinianos atrás das grades, em particular Walid Daqqah, o escritor palestiniano e combatente pela liberdade detido nas prisões israelitas durante 37 anos e agora em estado crítico. Ela pediu ao governo brasileiro que cumpra os acordos internacionais que o Brasil assinou e adotou.

Os latino-americanos são combatentes com uma longa história de colonialismo, guerras e imperialismo. É por isso que testemunhamos uma ampla solidariedade popular com a causa e os direitos do povo palestiniano.

Quando o festival foi anunciado por e-mail enviado no dia 17 de março a funcionários e estudantes da Unicamp, os descendentes de palestinos, representantes de professores, funcionários técnico-administrativos e estudantes de graduação e pós-graduação concordaram que ele deveria ser cancelado.

Numa carta enviada ao reitor da UNICAMP, salientaram que as universidades israelitas ajudam as políticas de Israel e tentam justificar as suas políticas de ocupação e apartheid. As universidades também, segundo os signatários, mantêm uma relação estreita e única com os militares israelitas. “Se a Unicamp prosseguir com o festival”, disseram, “irá legitimar o apartheid e aceitar que este e outros crimes contra a humanidade são aceitáveis em qualquer parte do mundo.

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